4.Nova compreensão do ministério
da catequese
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4.1. Catequese a serviço da iniciação
cristã
35. No início do cristianismo, a catequese
era o período em que se estruturava a conversão. Os já evangelizados eram iniciados no
mistério da Salvação e em um estilo evangélico de ser: experiência de vida
cristã, ensinamento sistematizado, mudança de vida, crescimento na comunidade,
constância na oração, alegre celebração da fé e engajamento missionário. Esse longo processo de iniciação, chamado catecumenato, se concluía com a imersão no mistério
pascal através dos três grandes sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia.
A catequese estava, pois, a serviço da iniciação cristã.
36. A situação do mundo atual levou a
igreja no Vaticano II a propor a restauração do catecumenato (cf. SC 64; CD 14;
cf. AG 14). O Batismo de crianças, que as introduz na vida da graça,
exige uma continuação, uma iniciação vivencial nos mistérios da fé (a pessoa de
Jesus, a igreja, a liturgia, os sacramentos) através da catequese.Esse processo
catequético possibilita também aos já batizados (adultos, jovens, crianças)
assumir conscientemente a própria vida cristã. Para os não-batizados, a
catequese se apresenta como processo catecumenal para a vida cristã (cf. CR 65; DGC 64).
4.1.1. O significado de iniciação no processo
catequético
37. A iniciação
possui uma raiz antiqüíssima nas culturas
humanas. Elas a valorizavam muito, sobretudo nos ritos de passagem e pertença
(batismo, circuncisão, ablação, casamento, desafios perigosos etc.), com destaque
para a entrada na vida adulta. Nossa sociedade perdeu, quase por completo, esse
elemento cultural, permanecendo alguns resquícios (festa das debutantes,
rituais de acolhida em certos grupos, o recebimento dos calouros etc.). O
noviciado permanece hoje com características de iniciação à vida religiosa. A
iniciação consistia num processo a ser percorrido, com metas, exercícios e
ritos. Considerada como parte da iniciação cristã (cf. AG 14; RICA 19),
a catequese não é uma supérflua introdução na fé, um verniz ou um cursinho de
admissão à igreja. É um processo exigente, um itinerário prolongado de
preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé
(mistérios), da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia.
4.1.2. Exigências da iniciação à vida cristã
38. A catequese, como elemento importante
da iniciação à vida cristã, implica um longo processo vital de introdução dos
cristãos ainda não plenamente iniciados, seja qual for a sua idade, nos
diversos aspectos essenciais da fé cristã. Trata, de forma sistemática, de
um todo elementar e coerente, que forneça base sólida para a caminhada “rumo à
maturidade em Cristo” (cf. Ef 4,13), com as seguintes dimensões, interligadas
entre si:
a) descoberta de si mesmo (dimensão antropológica ou tornar-se pessoa na ótica da fé);
b) experiência de Deus (dimensão afetivo-interpretativa);
c) anúncio e adesão a Jesus Cristo (dimensão cristológica);
d) vida no Espírito (dimensão pneumatológica);
e) celebração litúrgica e oração (dimensão celebrativa);
f) participação na comunidade (dimensão comunitário-participativa);
g) interação fé e vida, e serviço fraterno,
de acordo com os valores do reino (dimensão
sociotransformadora
e inculturada);
h) a formulação da fé (dimensão intelectual ou doutrinal);
i) o diálogo com outros caminhos e tradições
espirituais (dimensão ecumênica e de diálogo
inter-religioso);
j) o relacionamento de cuidado com o cosmo (dimensão ecológica ou cósmica).
4.2. Natureza da catequese
39. A catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a igreja transmite a fé que ela mesma vive, e o catequista é um
porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal (cf. CR 145). Ela transmite o tesouro da fé (traditio)
que, uma vez recebido,vivido e crescido no coração do catequizando, enriquece a
própria igreja (redditio).5 Ela, ao transmitir a fé, gera filhos pela ação do Espírito
Santo e os educa maternalmente (cf. DGC
78-79). A catequese faz parte do ministério
da palavra e do profetismo eclesial. O catequista é um autêntico profeta,
pois pronuncia a palavra de Deus, na força do Espírito Santo. Fiel à
pedagogia divina, a catequese ilumina e revela o sentido da vida.
40. A catequese possui algumas
características fundamentais:
a) ser um aprendizado dinâmico da vida
cristã, uma iniciação integral que favoreça o seguimento de Jesus Cristo;
b) fornecer uma formação de base essencial,
centrada naquilo que constitui o núcleo da experiência cristã (a fé, a
celebração e a vivência da páscoa de Jesus), lançando os fundamentos do
edifício espiritual do cristão (cf. 1Cor 3,10-18; is 28,16;1pd 2,4; 2Cor 6,16);
c) possibilitar a incorporação na comunidade
cristã: nela, a catequese vai além do ensino, põe em prática a dinâmica do
encontro com Jesus Cristo vivo e da experiência do Evangelho, celebra e
alimenta a fé nas elebrações e na liturgia;
d) proporcionar formação orgânica e
sistemática da fé;
e) desenvolver o compromisso missionário,
inerente à ação do Espírito Santo, para o estabelecimento do reino de Deus no
coração das pessoas, em suas relações interpessoais e na organização da
sociedade;
f) fomentar o diálogo com outras experiências
eclesiais (ecumenismo), religiosas (diálogo interreligioso) e com o mundo,
testemunhando a convivência fraterna com o diferente;
g) despertar o compromisso com a ação
sociotransformadora à luz da palavra de Deus e dos ensinamentos da igreja.
41. Por ser educação orgânica e sistemática
da fé, a catequese se concentra naquilo que é comum para o cristão, educa para
a vida de comunidade, celebra e testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce,
portanto, ao mesmo tempo, as tarefas de iniciação,educação e instrução (cf. DGC 68).
É um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de
crescimento de cada um.
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