quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012




  4.Nova compreensão do     ministério da catequese

4.1. Catequese a serviço da iniciação cristã
35. No início do cristianismo, a catequese era o período em que se estruturava a conversão. Os já evangelizados eram iniciados no mistério da Salvação e em um estilo evangélico de ser: experiência de vida cristã, ensinamento sistematizado, mudança de vida, crescimento na comunidade, constância na oração, alegre celebração da fé e engajamento missionário. Esse longo processo de iniciação, chamado catecumenato, se concluía com a imersão no mistério pascal através dos três grandes sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia. A catequese estava, pois, a serviço da iniciação cristã.
36. A situação do mundo atual levou a igreja no Vaticano II a propor a restauração do catecumenato (cf. SC 64; CD 14; cf. AG 14). O Batismo de crianças, que as introduz na vida da graça, exige uma continuação, uma iniciação vivencial nos mistérios da fé (a pessoa de Jesus, a igreja, a liturgia, os sacramentos) através da catequese.Esse processo catequético possibilita também aos já batizados (adultos, jovens, crianças) assumir conscientemente a própria vida cristã. Para os não-batizados, a catequese se apresenta como processo catecumenal para a vida cristã (cf. CR 65; DGC 64).
4.1.1. O significado de iniciação no processo catequético
37. A iniciação possui uma raiz antiqüíssima nas culturas humanas. Elas a valorizavam muito, sobretudo nos ritos de passagem e pertença (batismo, circuncisão, ablação, casamento, desafios perigosos etc.), com destaque para a entrada na vida adulta. Nossa sociedade perdeu, quase por completo, esse elemento cultural, permanecendo alguns resquícios (festa das debutantes, rituais de acolhida em certos grupos, o recebimento dos calouros etc.). O noviciado permanece hoje com características de iniciação à vida religiosa. A iniciação consistia num processo a ser percorrido, com metas, exercícios e ritos. Considerada como parte da iniciação cristã (cf. AG 14; RICA 19), a catequese não é uma supérflua introdução na fé, um verniz ou um cursinho de admissão à igreja. É um processo exigente, um itinerário prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé (mistérios), da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia.
4.1.2. Exigências da iniciação à vida cristã
38. A catequese, como elemento importante da iniciação à vida cristã, implica um longo processo vital de introdução dos cristãos ainda não plenamente iniciados, seja qual for a sua idade, nos diversos aspectos essenciais da fé cristã. Trata, de forma sistemática, de um todo elementar e coerente, que forneça base sólida para a caminhada “rumo à maturidade em Cristo” (cf. Ef 4,13), com as seguintes dimensões, interligadas entre si:
a) descoberta de si mesmo (dimensão antropológica ou tornar-se pessoa na ótica da fé);
b) experiência de Deus (dimensão afetivo-interpretativa);
c) anúncio e adesão a Jesus Cristo (dimensão cristológica);
d) vida no Espírito (dimensão pneumatológica);
e) celebração litúrgica e oração (dimensão celebrativa);
f) participação na comunidade (dimensão comunitário-participativa);
g) interação fé e vida, e serviço fraterno, de acordo com os valores do reino (dimensão sociotransformadora
e inculturada);
h) a formulação da fé (dimensão intelectual ou doutrinal);
i) o diálogo com outros caminhos e tradições espirituais (dimensão ecumênica e de diálogo inter-religioso);
j) o relacionamento de cuidado com o cosmo (dimensão ecológica ou cósmica).
4.2. Natureza da catequese
39. A catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a igreja transmite a fé que ela mesma vive, e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal (cf. CR 145). Ela transmite o tesouro da fé (traditio) que, uma vez recebido,vivido e crescido no coração do catequizando, enriquece a própria igreja (redditio).5 Ela, ao transmitir a fé, gera filhos pela ação do Espírito Santo e os educa maternalmente (cf. DGC 78-79). A catequese faz parte do ministério da palavra e do profetismo eclesial. O catequista é um autêntico profeta, pois pronuncia a palavra de Deus, na força do Espírito Santo. Fiel à pedagogia divina, a catequese ilumina e revela o sentido da vida.
40. A catequese possui algumas características fundamentais:
a) ser um aprendizado dinâmico da vida cristã, uma iniciação integral que favoreça o seguimento de Jesus Cristo;
b) fornecer uma formação de base essencial, centrada naquilo que constitui o núcleo da experiência cristã (a fé, a celebração e a vivência da páscoa de Jesus), lançando os fundamentos do edifício espiritual do cristão (cf. 1Cor 3,10-18; is 28,16;1pd 2,4; 2Cor 6,16);
c) possibilitar a incorporação na comunidade cristã: nela, a catequese vai além do ensino, põe em prática a dinâmica do encontro com Jesus Cristo vivo e da experiência do Evangelho, celebra e alimenta a fé nas elebrações e na liturgia;
d) proporcionar formação orgânica e sistemática da fé;
e) desenvolver o compromisso missionário, inerente à ação do Espírito Santo, para o estabelecimento do reino de Deus no coração das pessoas, em suas relações interpessoais e na organização da sociedade;
f) fomentar o diálogo com outras experiências eclesiais (ecumenismo), religiosas (diálogo interreligioso) e com o mundo, testemunhando a convivência fraterna com o diferente;
g) despertar o compromisso com a ação sociotransformadora à luz da palavra de Deus e dos ensinamentos da igreja.
41. Por ser educação orgânica e sistemática da fé, a catequese se concentra naquilo que é comum para o cristão, educa para a vida de comunidade, celebra e testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce, portanto, ao mesmo tempo, as tarefas de iniciação,educação e instrução (cf. DGC 68). É um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento de cada um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário